junho 25, 2008

Mihi irruma et te pedicabo

Um requesto frequente por parte de uma caterva de ávidos leitores tem sido textos que comportam três elementos: qualidade, religiosidade e locuções latinas. No que toca ao primeiro aspecto, os autores afirmam que, ao contrário de outros espaços, remetem, exclusivamente, para textos de qualidade superior ao próprio blog (o que, aparentemente, se traduz num manancial inesgotável de obras). Quanto à religiosidade, este fórum pretende publicitar uma perspectiva agnóstica, senão blasfema. Consequentemente, torna-se explicável  e verosímil a ausência de artigos desse teor (apesar da esfumada e rebuscada alusão à Opus Dei no último texto publicado). Realmente, os autores acusam o toque (linguagem esgrimística ou de Declaração Amigável) em relação às expressões latinas. Daí o devir do título do presente artigo, que, livremente vertido para língua portuguesa significa: faz-me um broche e eu enrabo-te. Ou, colocado de forma mais erudita: pratica sexo oral comigo, que eu retribuo com a introdução da minha verga pelo teu orifício anal acima. Tradução a meio-termo: faz-me um fellatio (a mais prazenteira locução latina), que eu rasgo-te o esfíncter à martelada. Expressão unissexo, que demostra a liberalidade de costumes, quer da Roma Antiga quer dos latinistas posteriores, a Igreja Católica. Neste caso em particular, os autores defendem o recurso a dois sexos diferentes e a uma distribuição específica de papéis nessa prática, reforçando a asserção náutica de que não atracam de popa. De forma a incluir textos de qualidade, de vincada edificação religiosa e abundantes em expressões latinas bíblicas, fica o elo para as primeiras edições dos Sermões de Padre António Vieira. Figura central na afirmação da dinastia de Bragança enquanto poder régio em Portugal e incansável defensor dos direitos das minorias brasileiras face à colonização. De tal forma que o presente autor, apesar de não dispôr de óculos de massa nem frequentar a ZDB (uma dolorosa declaração de interesses, tal como é requerida pelos mais conceituados órgãos de informação - Público, Diário de Notícias e Maria), assistiu ao filme de Manoel d'Oliveira sobre o prelado (Palavra e utopia, Madragoa Filmes, 2000). O traço que suscita maior preocupação é o conflito de cânones entre a apreciação individual do presente escrevinhador e a vox populi (olh'á expressão latina fresquinha!) concernente à obra do velho e rijo realizador. Para citar o próprio Vieira nas obras para as quais encaminhamos o estimado leitor: "A cegueira que cega cerrando os olhos, não é a maior cegueira; a que cega deixando os olhos abertos, essa é a mais cega de todas: e tal era a dos Escribas e Fariseus. Homens com os olhos abertos e cegos. Com olhos abertos, porque, como letrados, liam as Escrituras e entendiam os Profetas; e cegos, porque vendo cumpridas as profecias, não viam nem conheciam o profetizado".


 

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