dezembro 26, 2008

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(A minha duvida e se o "a" da marca e aberto ou fechado...)

novembro 28, 2008

Pêsames às putas de Lisboa na ausência do seu Meireles

Enormes cagaçais, putas rafadas 
que, cheias de pulmões e de bostelas, 
sofreis sobre mil males, mil mazelas 
cegas, fanhosas, coxas e aleijadas. 

Agora, mais que nunca desgraçadas, 
vos podeis chamar já todas aquelas 
que nas portas da rua ou das janelas, 
fostes do Grão Meireles requestadas. 

Inconsolável é o vosso pranto 
pois vos chega a roubar o fado esquivo 
um fiel chichisbéu que vos quis tanto. 

Nem vossa dor admite lenitivo 
porque todas ficais postas de canto 
órfãs daquele pai tão putativo. 

Padre Braz da Costa Mendonça
(Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica – organização de Natália Correia e ilustração de Cruzeiro Seixas, Afrodite, 1966)

novembro 22, 2008

Something told the wild geese

Something told the wild geese
    It was time to go.
Though the fields lay golden
    Something whispered - "Snow."
Leaves were green and stirring,
    Berries, luster-glossed,
But beneath warm feathers
    Something cautioned - "Frost."
All the sagging orchards
    Steamed with amber spice,
But each wild breast stiffened
    At remembered ice.
Something told the wild geese
    It was time to fly -
Summer sun was on their wings,
    Winter in their cry.

Rachel Field, Something Told the Wild Geese, Child Life, Oct. 1934

novembro 15, 2008

Poema 19


Niña morena y ágil, el sol que hace las frutas, 
el que cuaja los trigos, el que tuerce las algas, 
hizo tu cuerpo alegre, tus luminosos ojos 
y tu boca que tiene la sonrisa del agua.

Un sol negro y ansioso se te arrolla en las hebras 
de la negra melena, cuando estiras los brazos. 
Tú juegas con el sol como con un estero 
y él te deja en los ojos dos oscuros remansos.

Niña morena y ágil, nada hacia ti me acerca. 
Todo de ti me aleja, como del mediodía. 
Eres la delirante juventud de la abeja, 
la embriaguez de la ola, la fuerza de la espiga.

Mi corazón sombrío te busca, sin embargo, 
y amo tu cuerpo alegre, tu voz suelta y delgada. 
Mariposa morena dulce y definitiva 
como el trigal y el sol, la amapola y el agua.

Pablo Neruda, Veinte poemas de amor y una canción desesperada, Nascimento, Santiago de Chile, 1924

novembro 13, 2008

Hip-hop Battle

Porque é que a pretalhada residente em Portugal não se dedica antes ao sapateado?

novembro 11, 2008

Rememberance Day

John McRae, Punch, December 8, 1915


novembro 09, 2008

My Sweet Lord

Arrepio-me sempre que assisto a isto...

novembro 08, 2008

A pior adivinha do mês (e ainda vamos no dia 8)

Sabem o que é que é cor de rosa e derrete-se na boca ?
Um clítoris de uma leprosa...



novembro 07, 2008

Cavalo à solta

Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.

Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.

Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.

Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.

Ary dos Santos, As palavras das cantigas, Lisboa, Edições Avante!, 1997

novembro 05, 2008

Still I rise

You may write me down in history
With your bitter, twisted lies,
You may trod me in the very dirt
But still, like dust, I'll rise.

Does my sassiness upset you?
Why are you beset with gloom?
'Cause I walk like I've got oil wells
Pumping in my living room.

Just like moons and like suns,
With the certainty of tides,
Just like hopes springing high,
Still I'll rise.

Did you want to see me broken?
Bowed head and lowered eyes?
Shoulders falling down like teardrops.
Weakened by my soulful cries.

Does my haughtiness offend you?
Don't you take it awful hard
'Cause I laugh like I've got gold mines
Diggin' in my own back yard.

You may shoot me with your words,
You may cut me with your eyes,
You may kill me with your hatefulness,
But still, like air, I'll rise.

Does my sexiness upset you?
Does it come as a surprise
That I dance like I've got diamonds
At the meeting of my thighs?

Out of the huts of history's shame
I rise
Up from a past that's rooted in pain
I rise
I'm a black ocean, leaping and wide,
Welling and swelling I bear in the tide.
Leaving behind nights of terror and fear
I rise
Into a daybreak that's wondrously clear
I rise
Bringing the gifts that my ancestors gave,
I am the dream and the hope of the slave.
I rise
I rise
I rise. 

Maya Angelou, And Still I Rise, New York, Random House, 1978

novembro 01, 2008

Cântico dos Cânticos, Capítulo 7

7:1 Quão formosos são os teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe! Os contornos das tuas coxas são como jóias, obra das mãos de artista.   
7:2 O teu umbigo como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre como montão de trigo, cercado de lírios.   
7:3 Os teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela.   
7:4 O teu pescoço como a torre de marfim; os teus olhos como as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz é como torre do Líbano, que olha para Damasco.   
7:5 A tua cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça como a púrpura; o rei está preso pelas tuas tranças.   
7:6 Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor em delícias!   
7:7 Essa tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus seios aos cachos de uvas.   
7:8 Disse eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; então sejam os teus seios como os cachos da vide, e o cheiro do teu fôlego como o das maçãs,   
7:9 e os teus beijos como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente, e se escoa pelos lábios e dentes.   
7:10 Eu sou do meu amado, e o seu amor é por mim.   
7:11 Vem, ó amado meu, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias.   
7:12 Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se estão abertas as suas flores, e se as romanzeiras já estão em flor; ali te darei o meu amor.   
7:13 As mandrágoras exalam perfume, e às nossas portas há toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos; eu os guardei para ti, ó meu amado.

outubro 27, 2008

Pequeño vals vienés

En Viena hay diez muchachas,
un hombro donde solloza la muerte
y un bosque de palomas disecadas.
Hay un fragmento de la mañana
en el museo de la escarcha.
Hay un salón con mil ventanas.

¡Ay, ay, ay, ay!
Toma este vals con la boca cerrada.

Este vals, este vals, este vals, este vals,
de sí, de muerte y de coñac
que moja su cola en el mar.

Te quiero, te quiero, te quiero,
con la butaca y el libro muerto,
por el melancólico pasillo,
en el oscuro desván del lirio,
en nuestra cama de la luna
y en la danza que sueña la tortuga.

¡Ay, ay, ay, ay!
Toma este vals de quebrada cintura.

En Viena hay cuatro espejos
donde juegan tu boca y los ecos.
Hay una muerte para piano
que pinta de azul a los muchachos.
Hay mendigos por los tejados,
hay frescas guirnaldas de llanto.

¡Ay, ay, ay, ay!
Toma este vals que se muere en mis brazos. 

Porque te quiero, te quiero, amor mío,
en el desván donde juegan los niños,
soñando viejas luces de Hungría
por los rumores de la tarde tibia,
viendo ovejas y lirios de nieve
por el silencio oscuro de tu frente.

¡Ay, ay, ay, ay!
Toma este vals, este vals del "Te quiero siempre".

En Viena bailaré contigo
con un disfraz que tenga
cabeza de río.
¡Mira qué orillas tengo de jacintos!
Dejaré mi boca entre tus piernas,
mi alma en fotografías y azucenas,
y en las ondas oscuras de tu andar
quiero, amor mío, amor mío, dejar,
violín y sepulcro, las cintas del vals.

Federico Garcia Lorca, Poeta en Nueva YorkMéxico: Arbol, Editorial Séneca, 1940

outubro 24, 2008

"-Chrissy, he's fucked up!"

Antes violência gratuita que ter que pagar por ela...

outubro 23, 2008

"-Era uma hipotermia, ó fachavor"

Um importante motivo para este autor ter permanecido ausente da criação de reflexões originais nos últimos tempos foi uma total mudança de vida. Não, este autor não alterou o nome para Lilly Marlene e começou a atacar pelas ruas do Conde Redondo. Também não contraiu uma doença venérea que fez com que a piça adquirisse uma suspeita tonalidade azul luminescente e caísse. Simplesmente mudou de coordenadas geográficas e culturais. Não que não estivesse satisfeito com o belíssimo Portugal, sabiamente dominado pelos geniais e fabulosos líderes, como Gabriel Alves ou a astróloga Maya, personalidades que controlam de forma absoluta e encapotada os destinos do país. Manipuladores das marionetas políticas ou das pedras do xadrês administrativo, o seu cinismo chega ao ponto de, ocasionalmente, tecerem comentários sobre assuntos relevantes. Todavia, o amanuense destreinado encontra-se a divagar sobre questiúnculas que não são para aqui chamadas. A principal questão que o presente escriba quer lançar na praça pública (por entre os cagalhões de cão e a urina dos respectivos donos) relaciona-se com hipotermia voluntária. Instado para participar em raides nocturnos por alguns dos mais bem frequentados espaços de diversão nocturna do Nordeste inglês (não confundir com as paneleirices associadas ao Escutismo - peço antecipadamente desculpa a Nélson Camacho por ter utilizado o termo "Escutismo"), o narrador foi confrontado com uma bizarra situação: o universo feminino local tem como principal fonte de inspiração estilística o Cais do Sodré. Isso faz com que a polícia da cidade na qual o autor reside não tenha departamento de Costumes. Esse facto explica-se pela douta informação que me foi fornecida: "-A polícia não tem formas de distinguir as putas das outras mulheres." Por muito chocado que ficasse ao início, este recontador cedo se habituou a essas práticas e deixou de oferecer dinheiro às senhoras depois de uma esfregadela sorrateira, o que se revelou muito positivo para o seu orçamento. Agora, caro leitor, imagine um molho de grelos brancas como a cal a passear de minissaia com quatro graus de temperatura. Pele-de-galinha em corpo de lula. Consequentemente, algumas "senhoras", graças ao efeito milagroso do álcool, adormecem, envergando esses preparos, nos bancos de jardim espalhados ao longo do percurso para casa. Isso traduz-se em hipotermia derivada da indumentária concebida para essas temperaturas (top e minissaia). Algumas dessas personagens chegam, inclusivamente, a congelar e morrer. Conclusão, cuidado com as gajas que fodem nos bancos de jardim...elas podem não estar a ser simpáticas em deixar-vos usufruir de todos os orifícios com que Deus Nosso Senhor as presenteou.



outubro 21, 2008

Dedicado a Nélson Camacho

Faço minhas as palavras de Augusto Bruto.

Preconceito e Discriminação

Dito isto, so tenho a acrescentar:

"Vai-te foder, paneleiro de merda!"

outubro 19, 2008

Invisible Drum Kit

Dirty Love


Give me
Your dirty love
Like you might surrender
To some dragon in your dreams

Give me
Your dirty love
Like a pink donation
To the dragon in your dreams
I don't need your sweet devotion
An' I don't want your cheap emotion
Whip me up some dragon lotion
For your dirty love
Your dirty love
Give me
Your dirty love
Like some tacky little pamphlet
In your daddy's bottom drawer
Give me
Your dirty love
I don't believe you never seen
His book before

I don't need no consolation
I don't want your reservation
I only got one destination
An' that's your dirty love
Your dirty love
Give me
Your dirty love
Just like your mama
Make her fuzzy poodle do 
(Oh, Frenchie . . . )

Give me
Your dirty love
The way your mama
Make that nasty poodle chew
I'll ignore your cheap aroma
And your little-bo-peep diploma
I'll just put you in a coma
With some dirty love 
Some dirty love
That dirty love
That dirty love
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie)
THE POODLE CHEWS IT!
(Snap it!)
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie)
THE POODLE CHEWS IT!
(Snap it!) THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie)
THE POODLE CHEWS IT!(Snap it!) 
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie) THE POODLE CHEWS IT!
(Not a speck of cereal!) 
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie) 
THE POODLE CHEWS IT!
(Nothing but the best for my dog!) 
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie) 
THE POODLE CHEWS IT!
(Come on!) THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie) 
THE POODLE CHEWS IT!
(Little paws sticking up!) 
THE POODLE BITES!
(Little curly head!) 
THE POODLE CHEWS IT!
(Little curly tail!)

Frank Zappa, Over-night Sensation, DisCreet Recordings, 1973

outubro 17, 2008

Curso intensivo de alemão

Como é que este homem fez uma coisinha como a Natassja é que ainda estou para saber...

outubro 16, 2008

Da margem esquerda da vida

Da margem esquerda da vida 
Parte uma ponte que vai 
Só até meio, perdida 
Num halo vago, que atrai.

É pouco tudo o que eu vejo, 
Mas basta, por ser metade, 
Pra que eu me afogue em desejo 
Aquém do mar da vontade.

Da outra margem, direita, 
A ponte parte também. 
Quem sabe se alguém ma espreita? 
Não a atravessa ninguém.

Reinaldo Ferreira, Poemas, Lourenço Marques: Imprensa Nacional de Moçambique, 1960

outubro 15, 2008

Descobri um filme

Withnail and I, Bruce Robinson, 1987

outubro 14, 2008

Epigrama

São os cornos dos maridos
Como os dentes da criança:
Quando nascem custam dores,
Que é por certo uma matança.
Porém fortes e robustos,
Quando chegam a crescer,
Servem como os dentes serve
Isto é, para comer. 

José Agostinho de Macedo


outubro 06, 2008

outubro 05, 2008

5 de Outubro

"Os costumes de administração foi o que deram: o País à beira da ruína; o desgraçado consumidor a braços com o imposto de consumo, que o leva à tuberculose e à miséria; o contribuinte cada dia mais incapacitado de panar as contribuições sempre crescentes; o proprietário disposto a abandonar as suas terras; o viticultor impossibilitado de colocar os seus vinhos."

Extraído do discurso de Afonso Costa na Câmara dos Deputados a 20 de Novembro de 1906.

outubro 04, 2008

So long, Dennis

Soneto a Cesário

Se te encontrasse, agora, na paisagem
Nocturna dos fantasmas da cidade
Contava-te dos nossos pobres versos
No teu rasto de sombra e claridade.

Contava-te do frio que há em medir
A distância entre as mãos e as estrelas
Com lágrimas de pedra nos sapatos
E um cansaço impossível de escondê-las.

Contava-te – sei lá – desta rotina
De embalarmos a morte nas paredes
De tecermos o destino nas valetas.

De uma história de luas e de esquinas
Com retratos e flores da madrugada
A boiarem na água das sarjetas.

Dinis Machado (1930-2008) in Carlos do Carmo, Margens, EMI-Valentim de Carvalho, 1996 

poema

Os pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados 
ao trânsito automóvel
nas ruas de neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam do esplendor 
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gêlo
como se de gêlo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres
quando termina o dia
e o sol consegue um pouco 
abraçar a cidade
à luz razante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro negro e verde
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram 
os céus mediterrânicos

Mário Cesariny, Pena Capital, Lisboa: Contraponto, 1957


setembro 29, 2008

Crossing the Bar

Sunset and evening star,
And one clear call for me!
And may there be no moaning of the bar,
When I put out to sea,

But such a tide as moving seems asleep,
Too full for sound and foam,
When that which drew from out the boundless deep 
Turns again home.

Twilight and evening bell,
And after that the dark!
And may there be no sadness of farewell,
When I embark;

For though from out our bourne of Time and Place 
The flood may bear me far,
I hope to see my Pilot face to face 
When I have crossed the bar.

Alfred Lord TennysonDemeter and other poems, London, Macmillan, 1889

setembro 25, 2008

No direction home

City Hall, Newcastle-upon-Tyne, 21 de Maio de 1966

setembro 21, 2008

Justiça latina

Longe vai o tempo em que o Boletim do Ministério da Justiça português divulgava acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça com teor tão humano e erudito quanto este: “... Se é certo que se trata de crimes repugnantes que não têm qualquer justificação, a verdade é que, no caso concreto, as duas ofendidas muito contribuíram para a sua realização. Na verdade, não podemos esquecer que as duas ofendidas, raparigas novas, mas mulheres feitas, não hesitaram em vir para a estrada pedir boleia a quem passava, em plena coutada do chamado «macho ibérico». É impossível que não tenham previsto o risco que corriam; pois aqui, tal como no seu país natal, a atracção pelo sexo oposto é um dado indesmentível e, por vezes, não é fácil dominá-la. Ora, ao meterem-se as duas num automóvel justamente com dois rapazes, fizeram-no, a nosso ver, conscientes do perigo que corriam, até mesmo por estarem numa zona de turismo de fama internacional, onde abundam as turistas estrangeiras habitualmente com comportamento sexual muito mais liberal e descontraído do que a maioria das nativas.” (Boletim do Ministério da Justiça, n.º 390, Novembro de 1989). Contudo, neste Verão, o Supremo Tribunal italiano deliberou, num âmbito de um processo judicial por estupro, que: "I jeans attillati non sono una cintura di castità" (Os jeans justos não são um cinto  de castidade). A história é simples: um padrasto começou a esfregar manualmente a rata à enteada e ela reportou a ocorrência às autoridades competentes. O Manitas de Plata defendeu-se arguindo que num par de jeans apertados seria impossível colocar lá a mão sem "colaboração efectiva" da enteada. O leitor concerteza já se encontra enojado com a história. Se não, aconselho-o vivamente a procurar auxílio psiquiátrico. Todavia, este prólogo serve para introduzir a grande questão (este não é um trocadilho de pendor sexual referente ao caso do padrasto que areava a patareca da enteada): será que o macho latino está a receder? Não basta a autobiografia de Zezé Camarinha para explicar a situação. Continuamos com os role models masculinos de sempre: toureiros, forcados, motards e matrafonas. No fundo, os Village People numa versão autóctone. Como explicar a súbita mudança? A exposição mediática do Cláudio Ramos não explica tudo, apesar de contribuir definitivamente para criar um sentimento de insegurança. Ao contrário da maioria dos portugueses, o presente autor receia mais entrar numa casa de banho pública que em qualquer estação de serviço ou agência bancária lusa. Contudo, deve ser destacada a mudança central de mentalidade operada pelos tribunais italianos. Qualquer dia, os arguidos cumprirão tempo de prisão mesmo quando apresentarem as plausíveis justificações: "-Ela estava a pedi-las!", "-Amarrei-a na bagageira porque ela me convenceu!", "-Se há uma vítima, sou eu. Ela não tinha nada que se dobrar para apanhar a carteira quando eu estava com a sarda na mão!". Com uma justiça nesses moldes, onde se delimita a taradice e começa o crime? Requisito, encarecidamente, aos jurisprudentes deste torrão de testosterona que analisem estas conjunturas e elaborem um manual utilizável nessas embaraçosas situações. Parece que essa seria a primeira vez que o Professor Marcelo se poderia debruçar sobre o único assunto do qual é um eminente especialista. O distinto comentador até estranharia a proposta: "-O quê, pagarem-me para falar de coisas das quais realmente sei? Que afronta!" Para bem de todas as secretárias, empregadas de mesa e do próprio Marcelo Rebelo de Sousa, cá fica a sugestão.

setembro 20, 2008

Poema dum funcionário cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos

dispersou-me os amigos

tenho o coração confundido e a rua é estreita

estreita em cada passo

e as casas engolem-nos

sumimo-nos

estou num quarto só num quarto só

com os sonhos trocados

com toda a vida às avessas a arder num quarto só

  

Sou um funcionário apagado

um funcionário triste

a minha alma não acompanha a minha mão

Débito e Crédito Débito e Crédito

a minha alma não dança com os números

tento escondê-la envergonhado

o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do  

                                                         quintal em frente

e debitou-me na minha conta de empregado

Sou um funcionário cansado dum dia exemplar

Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu

                                                                               dever?

Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu

                                                                           cansaço?

    

Soletro velhas palavras generosas

Flor rapariga amigo menino

irmão beijo namorada

mãe estrela música

São as palavras cruzadas do meu sonho

palavras soterradas na prisão da minha vida

isto todas as noites do mundo uma noite só comprida

num quarto só

António Ramos-Rosa, Viagem através duma nebulosa, Lisboa, Ática, 1960