junho 24, 2008

Feira Popular

Descendo a ladeira do liceu, deparávamo-nos com os jardins da Biblioteca Nacional, onde se encontravam alguns espécimes no atarefado lavor de esgalhar fortemente o pessegueiro à passagem de liceais dotadas com traseiros compactos ou bugalhudos e entumecidos seios. Tarefa árdua, em especial durante a canícula do Verão, quando a exposição solar e a fricção poderiam ocasionar queimaduras de segundo grau no caralho e incómodos tufos de pêlo nas mãos. À direita, uma enigmática moradia, pertença de uma agremiação de indivíduos tementes a Deus e amantes do cilício que ostenta um nome latino (o presente escriba confessa nunca ter entrevisto João Bosco Mota Amaral nas imediações, apesar desse facto implicar uma falta tremenda na sua formação). Chegados à feira e após um assédio por parte dos funcionários dos espaços gastronómicos, manifestação única de um marketing agressivo, paparoca na mesa. Chegam as batatas fritas aglomeradas com SuperCola 3 e a argamassa comercializada com o epíteto de "arroz", faustosamente servidas pelo Seboso e apresentadas como iguaria de luxo num restaurante conceituado. Obviamente, deram-se alguns casos embaraçosos de intoxicações alimentares, distintas umas das outras pela coloração e consistência do gregório, numa espécie de arco-íris de vómito. Como se pode facilmente depreender, o Seboso era um empregado cuja higiene pessoal se converteu num paradigma para a comunidade comensal. Impermeabilizado por uma pasta de gordura, o seu cabelo (ou capacete) destacava-se na multidão na forma de manifestos e ostensivos orgulho e rigidez. Após a opípara refeição, os matrecos. Utilizando bolas de forma cúbica (um verdadeiro prodígio da geometria que merece o estudo de cientistas que investigam a quadratura do círculo, encontrando-se obviamente excluídos os responsáveis pelo programa homónimo transmitido pela SIC), ocupávamos o tempo de forma construtiva e vocabularmente enriquecedora. Ocasionalmente, o espaço era frequentado por cavalheiros de alto gabarito da região demarcada das Galinheiras, que nos espoliavam dos trocos enquanto atiravam o afectuoso e rebuçado de meiguice "-Eu chino-te, cabrão!". Uma naifa refulgia no ar em reflexos de sardinha assada de quando em vez, intimidando os circunstantes e glorificando os meliantes. Actualmente, liceu e feira são pilhas de entulho de memórias e tijolo...E agora, Lisboa?

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