agosto 23, 2008

Princípio de Realidade

Todos temos pelo menos um amigo que pensa que qualquer mulher que lhe responda demonstra uma paixão assolapada escondida no mais íntimo do seu ser. Essa alucinação mostra um défice naquilo que Sigmund Freud designou por "princípio de realidade" (Neue Folge Der Vorlesungen Zur Einfürung in Die Psychoanalyse, Wien: Internationaler Psychoanalytischer Verlag, 1933). A ausência total de noção do mundo real é um traço recorrente em algumas personalidades claramente psicóticas. Quando a mesma pessoa revela em público: "-Os meus peidos não cheiram mal" deve ser levado a sério e prestes internado numa casa para maluquinhos. Um dado relevante até agora ocultado pelo narrador: a alimária não dispõe de sentido olfactivo devido a uma doença do foro respiratório. Ou seja, porque não consegue cheirar, depreende que não há cheiro. O subjectivismo empirista levado ao extremo. Isso torna-o um fantástico estudo de caso para a validação da filosofia de George Berkeley (A Treatise Concerning the Principles of Human Knowledge). Nesse importante tratado, central no desenvolvimento do idealismo alemão (causando grande impacte no pensamento de Fichte), o autor explana uma teoria que se baseia na constituição de um Mundo exterior de Ideias. Criticando o empirismo postulado por John Locke, Berkeley afirma que, se o conhecimento humano se baseasse exclusivamente na percepção e se esta apresentasse anomalias, o sujeito construiria um Mundo distorcido. Um mundo distorcido em que o sujeito em causa se revê como um conquistador femeeiro, quando toda a gente sabe que deve ter as palmas das mãos mais peludas que o Tony Ramos. Enfim, um verdadeiro quadro de Dali. A coisa torna-se mais grave quando o espécime tenta cantar sobre a música emitida pelo auto-rádio sem acertar uma única nota, mas considerando-se um autêntico Sinatra. Por vezes, este autor pensa que se está a tentar bater o recorde do Guiness para a conversa mais estúpida de todos os tempos. Desde megalomanias empresariais à importação de Viagra da China, tudo é assunto aflorado e posteriormente esmiuçado nessas tertúlias. Todavia, tudo refina no que toca à interacção com o sexo feminino. Que o presente escriba saiba, é uma psicopatologia grave entender que uma pessoa que o repele com asco se encontra perdidamente enredada num amor que desponta. Aliás, esse tipo de relação foi alvo de diversas resoluções judiciais fascinantes. Este autor requer, encarecidamente, que nenhuma empregada de balcão sorria na presença desse sujeito cognoscente, sob pena de assédio na sua forma mais explícita e infantil possível. Grow up, will you?


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