agosto 26, 2008

Cave insonorizada

Não, caro leitor (no singular, claro está). Este artigo não se focará na selvajaria exercida por Josef Fritzl na sua própria família. Se, por um lado, o homem queria apurar a raça Fritzl pela forma mais extrema de endogamia, incesto e sequestro não são práticas toleráveis num estado que já nos doou alguns dos maiores democratas da História (Klemens Wenzel von MetternichArnold Alois Schwarzenegger, para não mencionar Adolf Hitler) O incesto, prática reiterada pelo sequestrador foi tema de diversos trabalhos académicos. Sigmund Freud (outro austríaco famoso) editou a sua obra Totem und Tabu: Einige Übereinstimmungen im Seelenleben der Wilden und der Neurotiker (Leipzig/Wien, Hugo Heller, 1913), o que demonstra o interesse dos naturais desse território nessas práticas. Posteriormente, o antropólogo Claude Lévi-Strauss (empresário têxtil nas horas vagas, especializado em gangas), publicou Les Structures élémentaires de la parenté (Paris, Presses Universitaires de France, 1949), estudo central nas estruturas de parentesco, apontando a proibição do incesto como potenciador de alianças dentro das comunidades. Aparte dessas teorias, Fritzl procurava realizar em três gerações aquilo que a dinastia de Bragança teve 300 anos para conseguir: produzir um D. Duarte. A consanguinidade é uma coisa lixada. Contudo, a magnífica capacidade técnica de Fritzl, um verdadeiro pináculo da techne, poderia ter sido aproveitada em Portugal. Numa cave escura de uma chafarica da periferia, reunia-se regularmente um grupo de amigos para as maratonas alcoólicas e para discutir de forma aberta e sem complexos "se o rabo daquela era melhor que o rabo da outra". Escusado será avançar que estas não pertenciam ao grupo e seus namorados encontravam-se presentes manifestando um semblante carregado e repleto de perplexidade. A partir de determinada altura, alguém decidiu instalar um acordeão de botões numa mesa (sim, leram bem, um acordeão de mesa) e um camarada passava lá as noites a entreter as massas com musiquinhas de baile. No fundo, era um acordeonista algo descaído que chagava a malta até à exaustão. Por isso, senhor Fritzl, insonorize só mais uma cave antes de ir tomar duche com os seus novos amigos do sabonete.


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