agosto 09, 2008

Diário de um lojista em Monção

Desengane-se o leitor expectante de uma croniqueta ao estilo das Novelas do Minho a martelo. Este autor é suficientemente cônscio das suas limitações por forma a não melindrar a memória de Camilo Castelo Branco ou dos restantes autores circunjazentes no Parnaso das nossas letras. Se, por um lado, a imitação é a mais alta forma de lisonja, o plágio é uma actividade punível por lei (de acordo com a Lei n.º 16/2008, de 1 de Abril, Artigo 211.º). Monção é uma das localidades portuguesas mais afamadas pela sua vitivinicultura. Terra do Alvarinho, das termas e das muralhas, encontra-se na região raiana do Minho e a escassos quilómetros de Espanha. O seu posicionamento estratégico foi belicamente valorizado nas diversas actividades de contacto cultural com os irmãos castelhanos que nos quiseram carinhosa e incestuosamente subjugar por diversas vezes. Contudo, é igualmente uma terra de emigração. A agricultura de subsistência deu lugar à semeadura de vivendas de elevado estilo arquitectónico e decorativo, erigidas pelos emigrantes e enramalhetadas pelas vertentes locais. Agosto é o mês do regresso. Os filhos pródigos metem-se no recém-adquirido bólide e vêm exibir o seu sucesso às bestas que cá ficaram. De tal forma guiam que a Prevenção Rodoviária, juntamente com o também emigrante Graciano Saga, produziu uma refinada e terna canção de modo a prevenir a sinistralidade nas estradas portuguesas. Encontrava-me ao balcão da mercearia, café e salão de jogos quando entrou um português de torna-viagem. Cedo quis demonstrar o seu sucesso financeiro, acenando-me com um maço de notas preso por um requintado alfinete de ouro, condizente com os anéis e fios que constituíam a sua blindagem. Reparando no espécime, notei uma tatuagem no braço direito. Surpresa total! Assemelhava-se a um retrato de Aníbal Cavaco Silva. Contudo, pareceu-me extremamente difícil lobrigar a personalidade retratada, dado os elevados pergaminhos estéticos do tatuador. Para mim, era o Cavaco e mais nada!!! Nem me tentem convencer do contrário. No mesmo fatídico dia, entrou uma senhora de provecta idade e pediu-me duas pilhas para o rádio. Quando indagada acerca da dimensão e voltagem das mesmas, respondeu: "- Daquelas que dão para ouvir o rancho, claro!" Ora, pois. Está claro?!
 

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