julho 04, 2008

Sonetos

De forma a destemperar este espaço da recente primazia atribuída a textos em língua inglesa, os autores afixam um exemplo de ouro-de-lei na escrita portuguesa:

Tanto de meu estado me acho incerto, 
Que em vivo ardor tremendo estou de frio; 
Sem causa, juntamente choro e rio, 
O mundo todo abarco, e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto: 
Da alma um fogo me sai, da vista um rio; 
Agora espero, agora desconfio; 
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando; 
Num'hora acho mil anos, e é de jeito 
Que em mil anos não posso achar um'hora.

Se me pergunta alguém porque assi ando, 
Respondo que não sei, porém suspeito 
Que só porque vos vi, minha Senhora.

(RHYTMAS / DE LVIS DE CAMOES, / Diuididas em cinco partes. / Dirigidas ao muito Illustre senhaor D. Gonçalo Coutinho. / [desenho] / Impressas com licença do supremo Conselho da geral / Inquisição, & Ordinario. / EM LISBOA, / Por Manoel de Lyra, Anno de M.D.Lxxxxv. / a custa de Esteuão Lopez mercador de libros.»)

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