De forma a destemperar este espaço da recente primazia atribuída a textos em língua inglesa, os autores afixam um exemplo de ouro-de-lei na escrita portuguesa:
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio,
O mundo todo abarco, e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto:
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio;
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Num'hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um'hora.
Se me pergunta alguém porque assi ando,
Respondo que não sei, porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
(RHYTMAS / DE LVIS DE CAMOES, / Diuididas em cinco partes. / Dirigidas ao muito Illustre senhaor D. Gonçalo Coutinho. / [desenho] / Impressas com licença do supremo Conselho da geral / Inquisição, & Ordinario. / EM LISBOA, / Por Manoel de Lyra, Anno de M.D.Lxxxxv. / a custa de Esteuão Lopez mercador de libros.»)
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