julho 14, 2008

Abriu a época de caça na Quinta da Fonte

Para quem esteve atento aos frescos eventos de fogo de artifício num bairro periférico da periferia de Lisboa (o que o situa entre o Burkina-Faso e o Burundi), devem ser destacados alguns itens. Em primeiro lugar, que processo leva a que duas minorias étnicas, as quais os media insistem em apontar como naturalmente propensas à criminalidade (contrariando a opinião abalizada de Michel de Montaigne, erroneamente atribuída a Jean-Jacques Rousseau no que toca ao "bom selvagem"), em especial à criminalidade violenta, falhem tantos tiros? Se o leitor reparar com atenção, pode entrever o total desperdício de munições ao longo do filme. Pior, como é que grupos étnicos que treinam numa carreira de tiro desde a vida intra-uterina (informação corroborada por alguns prestigiados órgãos de comunicação social) disparam uma quantidade tão elevada de chumbadas às paredes? É a total descredibilização do mito urbano que associa a coloração da tez à facilidade em manusear armas de fogo. Mais grave, as movimentações das várias equipas tácticas no teatro de operações revelaram um amadorismo proverbial, assemelhando-se a um agrupamento de vizinhos desavindos entendendo-se reciprocamente ao zagalote. Não admira que os portugueses sejam dos povos menos qualificados da Europa. Para suportar esse triste facto bastou assistir ao incompreensível espectáculo emitido a partir da Quinta da Fonte. "Much ado about nothing" diria Shakespeare. Um verdadeiro evento de pirotecnia inofensiva do qual resultaram apenas nove feridos. O ratio tiros disparados/vítimas efectivas foi mais baixo que o índice de produtividade da função pública numa manhã de Segunda-Feira. É revoltante falar de qualificação num país no qual, do universo total de homicídios, apenas uma tangencial franja se refere a homicídios qualificados. Contudo, o actual escriba deposita as maiores esperanças no programa Novas Oportunidades. Talvez estimule a pontaria dos pretos e ciganos de forma a que, da próxima vez que se tornem notícia, seja por uma precisão de criar inveja aos snipers do Marine Corps. One shot, one kill. Mas que isso se desenrole no bairro "deles"...


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