Para quem esteve atento aos frescos eventos de fogo de artifício num bairro periférico da periferia de Lisboa (o que o situa entre o Burkina-Faso e o Burundi), devem ser destacados alguns itens. Em primeiro lugar, que processo leva a que duas minorias étnicas, as quais os media insistem em apontar como naturalmente propensas à criminalidade (contrariando a opinião abalizada de Michel de Montaigne, erroneamente atribuída a Jean-Jacques Rousseau no que toca ao "bom selvagem"), em especial à criminalidade violenta, falhem tantos tiros? Se o leitor reparar com atenção, pode entrever o total desperdício de munições ao longo do filme. Pior, como é que grupos étnicos que treinam numa carreira de tiro desde a vida intra-uterina (informação corroborada por alguns prestigiados órgãos de comunicação social) disparam uma quantidade tão elevada de chumbadas às paredes? É a total descredibilização do mito urbano que associa a coloração da tez à facilidade em manusear armas de fogo. Mais grave, as movimentações das várias equipas tácticas no teatro de operações revelaram um amadorismo proverbial, assemelhando-se a um agrupamento de vizinhos desavindos entendendo-se reciprocamente ao zagalote. Não admira que os portugueses sejam dos povos menos qualificados da Europa. Para suportar esse triste facto bastou assistir ao incompreensível espectáculo emitido a partir da Quinta da Fonte. "Much ado about nothing" diria Shakespeare. Um verdadeiro evento de pirotecnia inofensiva do qual resultaram apenas nove feridos. O ratio tiros disparados/vítimas efectivas foi mais baixo que o índice de produtividade da função pública numa manhã de Segunda-Feira. É revoltante falar de qualificação num país no qual, do universo total de homicídios, apenas uma tangencial franja se refere a homicídios qualificados. Contudo, o actual escriba deposita as maiores esperanças no programa Novas Oportunidades. Talvez estimule a pontaria dos pretos e ciganos de forma a que, da próxima vez que se tornem notícia, seja por uma precisão de criar inveja aos snipers do Marine Corps. One shot, one kill. Mas que isso se desenrole no bairro "deles"...
julho 14, 2008
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