junho 28, 2008

Bibi

Este texto não se reporta ao proprietário do anorak vermelho com melhor corte a figurar na televisão. Motorista acusado de, alegadamente, ter "empurrado o cocó" a diversas gerações de crianças desvalidas (que, na sua pobreza de Cristo, trajam exclusivamente roupa de marca). Facilitador de digestões, arguiriam alguns. Aparte maldoso: a Casa Pia de Lisboa mantém um grupo de gaitas-de-foles. Nunca a expressão inglesa blowjob foi mais sabia e adequadamente empregue. Excluindo a libido exacerbada comum a ambos, não se destrinçam elementos partilhados pelos dois Bibis. Basílio de Brito (que subscreve "Bibi" nas suas missivas) é um dos principais personagens do romance O primo Basílio, de Eça de Queirós. Janota, cosmopolita, sofisticado, mefistofélico, luciferino e devasso, embrenha a casta e burguesa prima numa rede de luxúria, metamorfoseando-a numa fodilhona de elevadíssimo coturno. Basílio urdiu uma trama sórdida de desenfado e consequente perdição, tão característica do entediante meio burguês da época. Um passatempo carnal que revela a elevada categoria do gentleman em questão, o qual, podendo optar por uma panóplia de actividades, decide partilhar uma fracção do seu atulhado calendário numa acção de formação da conaça familiar. Derramando os eflúvios da dissolução na prima enquanto o marido desta se encontra num local distante, esse cavalheiro só pode deter um estatuto de eminente herói para o universo masculino. Lanço aqui um apelo a todas matulonas que mantêm um enfadado casamento a abrir as bem torneadas e depiladas gâmbias aos amanuenses resposáveis pelo presente pasquim. Por favor, não encarem esse acto como vilipêndio aos sagrados votos enunciados na presença do Senhor (e na ausência destes senhores em particular), mas como uma espécie de mecenato cultural. De momento, poucas coisas poderiam agradar sobremaneira aos presentes escribas como longas sessões de pouca-vergonha no entrepernas de belas mulheres casadas. Isto porque, se emergir alguma turbação no horizonte da relação torna-se sempre possível sugerir-lhes a frutuosa actividade de "andar de baloiço nos cornos do marido". Na galeria queirosiana dos horrores, os editores do presente espaço admitem partilhar traços comuns com diversas personagens, sendo um misto do sobredito Basílio de Brito, João da Ega e Fradique Mendes. Qualquer dia, os autores também serão cônsules em Newcastle como tu, meu caro José Maria...


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