Este fugaz episódio ocorreu durante uma noite em que o álcool evolava o seu anestesiante eflúvio na cabeça do presente escriba. Porém, a sua veracidade foi confirmada no pós-guerra química estomacal do dia seguinte. Um companheiro ocasional de copos e conversa que, para não revelar a sua identidade, será denominado Pink Floyd foi o protagonista desse momento mágico. O Pink Floyd, resultado de uma árvore genealógica de alcoólicos frutos fermentados no meio rural da Saloiolândia, trabalhava com lixo. Quando o autor utiliza a expressão "trabalhava com lixo", emprega-a no sentido literal. O Pink era lixeiro, não era assistente social nem guarda prisional e, muito menos, porteiro da Assembleia da República. Herdeiro das sequelas de avoengo alcoolismo, Pink fazia jus ao seu património heráldico. Numa plácida e tépida noite de Julho, enquanto o proprietário da capela ao deus Dyonisos (estavam à espera da referência ao equivalente romano, não estavam? Cabrões! Lixei-os bem!) perorava acerca da putefice das sapateiras, que se espojavam com as dez patas abertas à espera que as comessem, apareceu o Floyd. Acampou ao balcão, onde filosofava fluentemente, na medida do possível, acerca de qualquer assunto de actualidade. Presumi que tecesse considerações ao programa nuclear iraniano. Enquanto aflorava as complexas teorias de fissão e fusão atómicas (seguramente era isso que chegava aos ouvidos do presente autor ou, pelo menos, aquilo que este entendia estar a ouvir), bebia calmamente a sua jola. O estimado leitor certamente reparou que o contador utiliza termos da gíria, de forma a enfatizar a demonstração da estirpe do mangas. À saída, Floyd assaltou o autor com a seguinte expressão "-Vou às mulheres!" antes de vestir o colete retroreflector e ligar a acelera. Entretanto este tabelião relembrou que, inconscientemente, a distinta personalidade protagonizou o momento do mais eivado republicanismo a que pôde presenciar. Num povoado em que, periodicamente, se realizava uma alegoria histórica ambulatória, o Pink foi abordado com a questão: "-E de que é que vais [vestido] este ano?" Retorno pronto e sábio: "-Vou de rei ou de outra merda qualquer!" Cremos que essa resposta não chegou aos ouvidos de D. Duarte ou do Rei dos Frangos, refastelado no seu sobranceiro castelo leiriense.
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