setembro 30, 2008
setembro 29, 2008
Crossing the Bar
And one clear call for me!
And may there be no moaning of the bar,
When I put out to sea,
But such a tide as moving seems asleep,
Too full for sound and foam,
When that which drew from out the boundless deep
Turns again home.
Twilight and evening bell,
And after that the dark!
And may there be no sadness of farewell,
When I embark;
For though from out our bourne of Time and Place
The flood may bear me far,
I hope to see my Pilot face to face
When I have crossed the bar.
Alfred Lord Tennyson, Demeter and other poems, London, Macmillan, 1889
setembro 25, 2008
setembro 21, 2008
Justiça latina
setembro 20, 2008
Poema dum funcionário cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
e as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só
António Ramos-Rosa, Viagem através duma nebulosa, Lisboa, Ática, 1960
setembro 19, 2008
À l'office
Quand vous vous êtes servie d'une banane pour vous amuser toute seule ou pour faire jouir la femme de chambre, ne remettez pas la banane dans la jatte sans l'avoir soigneusement essuyée.
Ne branlez pas tous vos petits amis dans une carafe de citronnade, même si cette boisson vous parait meilleure aditionnée de foutre frais. Les invités de monsieur votre père ne partagent peut-être pas votre goût.
Si vous videz subrepticement la moitié d'une bouteille de champagne, ne pissez pas dedans pour la remplir.
Ne suggérez pas au serveur de faire l'amour dans le cul d'une poularde cuite, sans vous être préalablement assurée par vous même que le serveur n'est pas malade.
Ne faites pas caca dans le crème au chocolat, même si, étant privée de dessert, vous êtes sûre de n'en pas manger.
Pierre Louÿs, Manuel de civilité pour les petites filles à l'usage des maisons d'éducation, Paris, Éd. Simon Kra, 1926
setembro 18, 2008
Na rua
setembro 17, 2008
setembro 12, 2008
setembro 11, 2008
Morte ao Meio-dia
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
o único caminho é direito ao sol
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
da velha lei mental pastilhas de mentol
Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta a gravidade do momento
O meu país é o que o mar não quer
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
setembro 10, 2008
setembro 09, 2008
Veneza aos Gatos
(os pombos da bondade só conspurcam
a praça de S. Marcos)
...ao gato perna alta que não vem quando o chamas,
ao contrário da patrícia mosca
que não era para aqui chamada,
mas logo te soprou os últimos zunzuns
mal chegaste a Lisboa
O gato de Veneza não te dá pretextos
para miares o que te vai na alma,
nem os sacros temores da miaulesca
esfinge rilkeana.
Não é um gato é um perfil de gato
Tapando a saída da calleta.
O gato veneziano é um gato sem regaços
e sem selvajaria.
De Veneza o gato é sempre muitos gatos
que vão à sua vida...
...como tu, afinal, não vais à tua.
(De Veneza a Lisboa, num zunido,
já trazias a mosca no ouvido...)
setembro 08, 2008
setembro 06, 2008
Noivado
Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias de ternura.
setembro 05, 2008
setembro 04, 2008
Pensos Romenos, s.f.f.
setembro 03, 2008
Música
era como que uma cadeira sentada sem
um não falar de coisa alguma com a palavra por baixo
nada faria prever que o vento fosse de azul para cima
e que a pose uma nostalgia de movimento deambulante
era-se como se tudo por cima duma vontade de fazer uma asa
nós não movimentamos o espaço mas a vida erege a cifraconstrói por dentro um vocábulo sem se saber
como o que será
era um sinal que vinha duma atmosfera simplificante
silêncio como um pássaro caído a falar do comprimento."