outubro 27, 2008

Pequeño vals vienés

En Viena hay diez muchachas,
un hombro donde solloza la muerte
y un bosque de palomas disecadas.
Hay un fragmento de la mañana
en el museo de la escarcha.
Hay un salón con mil ventanas.

¡Ay, ay, ay, ay!
Toma este vals con la boca cerrada.

Este vals, este vals, este vals, este vals,
de sí, de muerte y de coñac
que moja su cola en el mar.

Te quiero, te quiero, te quiero,
con la butaca y el libro muerto,
por el melancólico pasillo,
en el oscuro desván del lirio,
en nuestra cama de la luna
y en la danza que sueña la tortuga.

¡Ay, ay, ay, ay!
Toma este vals de quebrada cintura.

En Viena hay cuatro espejos
donde juegan tu boca y los ecos.
Hay una muerte para piano
que pinta de azul a los muchachos.
Hay mendigos por los tejados,
hay frescas guirnaldas de llanto.

¡Ay, ay, ay, ay!
Toma este vals que se muere en mis brazos. 

Porque te quiero, te quiero, amor mío,
en el desván donde juegan los niños,
soñando viejas luces de Hungría
por los rumores de la tarde tibia,
viendo ovejas y lirios de nieve
por el silencio oscuro de tu frente.

¡Ay, ay, ay, ay!
Toma este vals, este vals del "Te quiero siempre".

En Viena bailaré contigo
con un disfraz que tenga
cabeza de río.
¡Mira qué orillas tengo de jacintos!
Dejaré mi boca entre tus piernas,
mi alma en fotografías y azucenas,
y en las ondas oscuras de tu andar
quiero, amor mío, amor mío, dejar,
violín y sepulcro, las cintas del vals.

Federico Garcia Lorca, Poeta en Nueva YorkMéxico: Arbol, Editorial Séneca, 1940

outubro 24, 2008

"-Chrissy, he's fucked up!"

Antes violência gratuita que ter que pagar por ela...

outubro 23, 2008

"-Era uma hipotermia, ó fachavor"

Um importante motivo para este autor ter permanecido ausente da criação de reflexões originais nos últimos tempos foi uma total mudança de vida. Não, este autor não alterou o nome para Lilly Marlene e começou a atacar pelas ruas do Conde Redondo. Também não contraiu uma doença venérea que fez com que a piça adquirisse uma suspeita tonalidade azul luminescente e caísse. Simplesmente mudou de coordenadas geográficas e culturais. Não que não estivesse satisfeito com o belíssimo Portugal, sabiamente dominado pelos geniais e fabulosos líderes, como Gabriel Alves ou a astróloga Maya, personalidades que controlam de forma absoluta e encapotada os destinos do país. Manipuladores das marionetas políticas ou das pedras do xadrês administrativo, o seu cinismo chega ao ponto de, ocasionalmente, tecerem comentários sobre assuntos relevantes. Todavia, o amanuense destreinado encontra-se a divagar sobre questiúnculas que não são para aqui chamadas. A principal questão que o presente escriba quer lançar na praça pública (por entre os cagalhões de cão e a urina dos respectivos donos) relaciona-se com hipotermia voluntária. Instado para participar em raides nocturnos por alguns dos mais bem frequentados espaços de diversão nocturna do Nordeste inglês (não confundir com as paneleirices associadas ao Escutismo - peço antecipadamente desculpa a Nélson Camacho por ter utilizado o termo "Escutismo"), o narrador foi confrontado com uma bizarra situação: o universo feminino local tem como principal fonte de inspiração estilística o Cais do Sodré. Isso faz com que a polícia da cidade na qual o autor reside não tenha departamento de Costumes. Esse facto explica-se pela douta informação que me foi fornecida: "-A polícia não tem formas de distinguir as putas das outras mulheres." Por muito chocado que ficasse ao início, este recontador cedo se habituou a essas práticas e deixou de oferecer dinheiro às senhoras depois de uma esfregadela sorrateira, o que se revelou muito positivo para o seu orçamento. Agora, caro leitor, imagine um molho de grelos brancas como a cal a passear de minissaia com quatro graus de temperatura. Pele-de-galinha em corpo de lula. Consequentemente, algumas "senhoras", graças ao efeito milagroso do álcool, adormecem, envergando esses preparos, nos bancos de jardim espalhados ao longo do percurso para casa. Isso traduz-se em hipotermia derivada da indumentária concebida para essas temperaturas (top e minissaia). Algumas dessas personagens chegam, inclusivamente, a congelar e morrer. Conclusão, cuidado com as gajas que fodem nos bancos de jardim...elas podem não estar a ser simpáticas em deixar-vos usufruir de todos os orifícios com que Deus Nosso Senhor as presenteou.



outubro 21, 2008

Dedicado a Nélson Camacho

Faço minhas as palavras de Augusto Bruto.

Preconceito e Discriminação

Dito isto, so tenho a acrescentar:

"Vai-te foder, paneleiro de merda!"

outubro 19, 2008

Invisible Drum Kit

Dirty Love


Give me
Your dirty love
Like you might surrender
To some dragon in your dreams

Give me
Your dirty love
Like a pink donation
To the dragon in your dreams
I don't need your sweet devotion
An' I don't want your cheap emotion
Whip me up some dragon lotion
For your dirty love
Your dirty love
Give me
Your dirty love
Like some tacky little pamphlet
In your daddy's bottom drawer
Give me
Your dirty love
I don't believe you never seen
His book before

I don't need no consolation
I don't want your reservation
I only got one destination
An' that's your dirty love
Your dirty love
Give me
Your dirty love
Just like your mama
Make her fuzzy poodle do 
(Oh, Frenchie . . . )

Give me
Your dirty love
The way your mama
Make that nasty poodle chew
I'll ignore your cheap aroma
And your little-bo-peep diploma
I'll just put you in a coma
With some dirty love 
Some dirty love
That dirty love
That dirty love
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie)
THE POODLE CHEWS IT!
(Snap it!)
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie)
THE POODLE CHEWS IT!
(Snap it!) THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie)
THE POODLE CHEWS IT!(Snap it!) 
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie) THE POODLE CHEWS IT!
(Not a speck of cereal!) 
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie) 
THE POODLE CHEWS IT!
(Nothing but the best for my dog!) 
THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie) 
THE POODLE CHEWS IT!
(Come on!) THE POODLE BITES!
(Come on, Frenchie) 
THE POODLE CHEWS IT!
(Little paws sticking up!) 
THE POODLE BITES!
(Little curly head!) 
THE POODLE CHEWS IT!
(Little curly tail!)

Frank Zappa, Over-night Sensation, DisCreet Recordings, 1973

outubro 17, 2008

Curso intensivo de alemão

Como é que este homem fez uma coisinha como a Natassja é que ainda estou para saber...

outubro 16, 2008

Da margem esquerda da vida

Da margem esquerda da vida 
Parte uma ponte que vai 
Só até meio, perdida 
Num halo vago, que atrai.

É pouco tudo o que eu vejo, 
Mas basta, por ser metade, 
Pra que eu me afogue em desejo 
Aquém do mar da vontade.

Da outra margem, direita, 
A ponte parte também. 
Quem sabe se alguém ma espreita? 
Não a atravessa ninguém.

Reinaldo Ferreira, Poemas, Lourenço Marques: Imprensa Nacional de Moçambique, 1960

outubro 15, 2008

Descobri um filme

Withnail and I, Bruce Robinson, 1987

outubro 14, 2008

Epigrama

São os cornos dos maridos
Como os dentes da criança:
Quando nascem custam dores,
Que é por certo uma matança.
Porém fortes e robustos,
Quando chegam a crescer,
Servem como os dentes serve
Isto é, para comer. 

José Agostinho de Macedo


outubro 06, 2008

outubro 05, 2008

5 de Outubro

"Os costumes de administração foi o que deram: o País à beira da ruína; o desgraçado consumidor a braços com o imposto de consumo, que o leva à tuberculose e à miséria; o contribuinte cada dia mais incapacitado de panar as contribuições sempre crescentes; o proprietário disposto a abandonar as suas terras; o viticultor impossibilitado de colocar os seus vinhos."

Extraído do discurso de Afonso Costa na Câmara dos Deputados a 20 de Novembro de 1906.

outubro 04, 2008

So long, Dennis

Soneto a Cesário

Se te encontrasse, agora, na paisagem
Nocturna dos fantasmas da cidade
Contava-te dos nossos pobres versos
No teu rasto de sombra e claridade.

Contava-te do frio que há em medir
A distância entre as mãos e as estrelas
Com lágrimas de pedra nos sapatos
E um cansaço impossível de escondê-las.

Contava-te – sei lá – desta rotina
De embalarmos a morte nas paredes
De tecermos o destino nas valetas.

De uma história de luas e de esquinas
Com retratos e flores da madrugada
A boiarem na água das sarjetas.

Dinis Machado (1930-2008) in Carlos do Carmo, Margens, EMI-Valentim de Carvalho, 1996 

poema

Os pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados 
ao trânsito automóvel
nas ruas de neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam do esplendor 
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gêlo
como se de gêlo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres
quando termina o dia
e o sol consegue um pouco 
abraçar a cidade
à luz razante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro negro e verde
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram 
os céus mediterrânicos

Mário Cesariny, Pena Capital, Lisboa: Contraponto, 1957